JUAREZ JOSÉ

( São Paulo – Brasil )

PINGENTE – ANO 1 – 1981 – No. 2  Editor Carlos Marx Alves.   Osasco, SP: 1981.   Ilus. RÊ. 10,5 x 15,5 cm. Incui os poetas Antonio Carlos M. Souza (Cacá) , Risomar Fasanaro,   Elson Alegretti Rodrigues, Alberto Jun Ikeda, Juarez José, Anna Leite, Nicolas Behr,           Gilberto  Bertolini Fajardo, Vera Lúcia Romin. Glauco Ferreira dos Santos.                                                             Ex. bibl. Antonio Miranda
      

AMIZADES  

       A José Pessoa

Libertar-se desta roupa apertada
chamada país.
Eleger-se de um novo mundo, um outro mundo.
A vida, a vida está lançada de novo.
Todas as âncoras, todas as amarras soltas.
Tudo de novo brilha sob o sol tropical.
O navegar preciso.
Despir-se de tudo
que se proclama necessidade.
Vender o carro, a casa, os discos
e comprar a passagem de viagem, de vertigem.
O mundo começa outra vez.
Novos amigos, nova língua, novos sonhos.

Relançar as sementes.
Ressurgir a esperança
de encontrar um lugar inacabado
onde tudo tem o orvalho do começar,
O soo da manhã de uma nova nação
o amanhecer de um povo criança
a doce brisa da utopia.
Começar, começar
nas asas da improvisação.


AROMA DE AMORA

Sim é uma floresta.
Veja bem mas veja além da visão
limitada pelo cimento aparente.
Veja como os gênios da mata
percorrem os bares e cafés.
Luz difusa dos raios de sol de neon.
Veja a lua, linda, lânguida, leve
sobre os prédios, praças.
Veja como procuramos a imagem do paraíso
perdida em alguma rua que cruza a memória.
Não aprendemos que a cidade nada restitui
depois dos pés dos prédios pisarem o chão
onde o verde fazia veludo para o corpo do dia.
Nenhum supermercado venderá um rio
nenhum aroma de amora de fundo de quintal
nenhum cheiro de terra molhada pela chuva
nem poeira de estrada, cheiro de mato
canto de galo, martelo de araponga.
Esse interior tão dentro de nós
tão estranho nesta floresta que não vemos
escondida entre as ramagens de pessoas
que nos envolvem nos cipós das calçadas.
Macunaímas perdidos nesta floresta sem árvores
mas feita de gente vegetal
brotando uma outra natureza de ser.

PINGENTE – ANO 1 – 1981 – No. 3  Editor Carlos Marx Alves.   Osasco, SP: 1981.   Ilus. Tadayuki. 10,5 x 15,5 cm. Incui os poetas A. Garibaldi, Eduardo Kanemoto, Juarez       José, Elson Alegretti Rodrigues, Maria Marcilia Nery,  Lú Silva, Clarice Luciano Pereira  (Clá), Daniel Souza, Cláudio Feldman, Clotilde Elias Fernandes,
Mônica Ximenes Leite,  Alberto Jun Ikeda.     
Ex. bibl. Antonio Miranda

SAUDADE MARAVILHOSA

Andar por todas as ruas do país.
Estas paredes tão frias de mármore.
Um rosto se emoldura na janela.
Um carro passa. Um carro passa...
Quando chegar o carnaval.
em algum lugar alguém é feliz talvez.
Nada resta do colorido dos cabelos.
Só o branco. Só, e o branco dos cabelos.
Amanhã ninguém sabe.
Todos os caminhos. Roma.
E a vida late, longe, lateja.
O gotejar das horas.
O borbulhar das horas.
Amanhã. Feliz.
Mas como você faz falta!

*

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Página publicada em fevereiro de 2022